" histórias incompletas" na fortaleza de peniche


                             Histórias Incompletas 

As relações entre a pintura e as outras artes têm sido alvo da atenção de grandes pensadores-, desde filósofos a artistas e poetas, remontando até ao famoso aforisma de Plutarco, poeta que viveu entre os seculos VI e V a.C.: a pintura é poesia muda e a poesia é pintura falante.

  Com este pensamento não se pretende mostrar defeitos nem virtudes mas sim levantar algumas questões que acho pertinentes para o observador desta e de outras exposições de pintura, tentando marcar diferenças que nos ajudam a entender que estamos perante obras de arte sem necessitar que nos seja dito por nenhuma entidade do mundo da arte, já que o conceito arte continua hoje em dia objecto de grandes debates e permanece, a rigor, indefinido.

A pintura não é uma arte do tempo e só as artes do tempo são capazes de narrar e contar histórias e tem principio e fim. A pintura é uma arte do espaço, não é verdadeiramente narrativa e não tem principio nem fim ( o olhar do espectador move-se com uma liberdade muito grande e quase do tipo idiossincrásico) .É verdade que cada pessoa tem a sua forma de sentir individual e por isso mesmo , se fala na idiossincrasia na pintura.

A pintura não consegue narrar, contar histórias. Apenas consegue representar estaticamente cenas de uma história.

(Gaudreault e jost in Le Récit cinematographique)

Assim existem algumas diferenças demasiado rígidas para com a pintura e as outras artes, onde a percepção de um quadro não é um fenómeno instantâneo, mas um processo que engloba percepções temporalmente sucessivas ao invés de uma arte do tempo ( literatura ,cinema, música) em que o seu conhecimento culmina do espirito do sujeito, numa síntese final em que os seus elementos constitutivos de certo modo coexistem simultaneamente.

Nesta distinção resta-nos evidenciar que o texto pictórico embora topograficamente delimitado, não tem um principio nem um fim: o olhar do espectador move-se com uma liberdade muito grande.

Assim de uma forma muito resumida podemos avançar e tendo em conta que narrativa é igual a um conjunto de acontecimentos, e sendo que o texto pictórico não exprime, através da sua recepção, uma duração delimitada por um principio e um fim. O estatismo da espacialidade assume nele uma preponderância incontestável sobre a possibilidade da visibilidade de uma transformação em acção, de uma temporalidade como duração.

Neste sentido preciso, o texto pictórico nunca é verdadeiramente, narrativa.

Assim deixo aqui algumas ideias na tentativa de contribuir para uma melhor fruição e entendimento da pintura no particular e da arte no geral.

Sugestão : completem as nossas histórias incompletas com imaginação e toda a liberdade do vosso espirito.

                                                       

                                                                    José Carlos B.