Cidade
 
Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu em ti fechada e apenas vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas a sombra pelas paredes
A minha alma que fora prometida
Ás nódoas branco e ás florestas verdes.
Sophia de Mello Breyner Andresen
 
Tela pintada por:
Lucinda Monteiro
 

Trémulos vincos risonhos
Na água adormecida
Porque fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
Contemplo o Lago Mudo
Contemplo o lago Mudo
Que uma brisa estremece
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece
O Lago me diz
Não sinto a brisa mexê – lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo

Fernando Pessoa


Tela pintada por:
Barbara Almeida
 
 

 
Quando as crianças brincam          

Quando as crianças brincam      
E eu as ouço brincar,      
Qualquer coisa em minha alma   
Começa a se alegrar      
E toda aquela infância      
  Que não tive me vem,       
Numa onda de alegria      
  Que não foi de ninguém.       
Se quem fui é inigma,        
E quem serei visão,      
  Quem sou ao menos sinta      
  Isto no meu coração”                                 

FERNANDO PESSOA   

Pintado por:
Kéu Almeida
 


O meu Alentejo
 
“Tudo é tranquilo calmo e sonhador…
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então; Onde há pintor.
Onde há artista de saber profundo
Que possa imaginar coisa mais bela.
Mais delicada e linda neste Mundo?”
Florbela Espanca
 
 
Tela pintada por:

 


Em Dias de Luz Perfeita e Exacta
Ás vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza ás cousas
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existem apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
Alberto Caeiro, in“O Guardador de Rebanhos – Poema XXVI
Tela pintada por:
Maria João

Poema de amor – Colar de pérolas
 
 
Eu tenho um colar de pérolas
Enfiado para te dar:
As pérolas são os meus beijos,
O fio é o meu pesar.

Fernando Pessoa
 
Tela pintada por:
Muriel Legrand
 

“Olhar”
Em um canto escuro
Repousa um quadro.
Dentro dele um sorriso aprisionado
Enigmático, com sede de liberdade.

Esteves
tela pintada por:
Esteves

“ O ter espaço para pensar
Faz das memórias
Um redemoinho do Tempo
O ter tempo para olhar
Faz da recordação
O sustento de cada momento”


Ana de Campos Leitão
Tela pintada por:
Tina Priori

“Tardinha...Avé Maria, Mãe de Deus…»
E reza a voz dos sinos e das noras…
Eutre as altas espigas de oiro para os céus
O sol que morre, tem clarões de auroras. “
 
P.Morato
tela pintada por:
P. Morato

Rosas
Grande é o ramo de rosas
Que o meu conto vai ilustrar
Sua candura enobrece a escrita
Onde a minha pena vai caminhar
Suas pétalas folhas do livro
Onde contos vão narrar
Recordações de alma escrita
Seu perfume vai titular
A folhagem das minhas rosas
Mesmo marcadas pelo tempo
São brochuras que vão guardar
A raiz do pensamento
Alguém irá estas pétalas folhear
Mesmo sendo um lamento
Para que as minhas memórias,
Morram no esquecimento

Raízes M\ Peniche


Tela pintada por:
Maria Odília
 


Narcisos
Os narcisos minhas flores, que fazem despertar sentimentos de nostalgia
Meus narcisos trazem calma, paz e alegria
Para saber ganhar um dia o amor da minha vida
Ó narciso que lindo estas nesta dança entrelaçada
Ver-vos assim floridos nunca me deixa cansada
Encontrei-vos por acaso num campo verdejante Logo vos fiz meus amantes
Sem vocês não sei viver, quando partem
Sinto – me morrer ….
São o sol da minha VIDA
Ó minha flor perfeita!
Tela pintada por:
MARA

 
"Se eu fosse pintor, passava a minha vida a pintar o pôr-do-sol à beira – mar. Fazia cem telas todas variadas com tintas novas e imprevistas. É um espectáculo extraordinário.”

Raul Brandão
 
Tela pintada por:
Teresa Paulino

 
É talvez o meu último dia da minha vida.
 
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantado a mão direita,
Mas não o saudei dizendo – lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.

Alberto Caeiro
 
 
 
Tela pintada por:
Virgínia Barreiro
 

MAR SALGADO


Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzamos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar ale do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espalho o céu.
Fernando Pessoa
 
Tela pintada por:
Baptista
 

MULATA


“A natureza humana em harmonia com a vida animal.”
Maria José 2010
TELA PINTADA POR :
JOHN SALGUEIRO

CAVALO Á SOLTA



Cavalo à solta
Minha laranja amarga e doce
Meu poema
Feito de gomos de saudade
Minha pena
Pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve breve
Instantes de loucura.
Minha ousadia
Meu galope
Minha rédea
Meu potro doido
Minha chama
Minha réstia
De luz intensa
De voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa.
 
 
Em ti respiro
Em ti provo
Por ti consigo
Esta força que de novo
Em ti persigo
Em ti percorro
Pela margem do teu corpo.
Minha alegria
Minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura.
Por isso digo
Canção castigo
Amêndoa travo corpo alma amante amigo
Por isso canto
Por isso digo
Alpendre casa cama arca do meu trigo.
Meu desafio
Minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura
José Carlos Ary dos Santos
 
 
 
Tela pintada por:
Carmo Silva